Aroma F

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ogre

Sentei-me, todos aqueles dias, de profunda angustia, no rochedo à beira do precipício, o rio fluía do meu lado, criando a mais bela cascata que alguma vez havia visto.
Voava até ao seu lamaçal, só para o ver, mas logo, umas mãos me pegavam e levavam embora. Deixava sempre um pedacinho de mim, e pensava, constantemente, sem a suspensão de um dia sequer:
-Tomara que enxergasse.

Sorria por ele, um sorriso pequenino, invisível, mas sincero.
De aparência pesada, sem maneiras, parecia-me tão insensível, talvez pelo dom que tinha em destruir as coisas que sempre me fizeram bem.
Inócua, como sempre fora, dei-lhe todo o meu carinho, algo que me recusava freneticamente. Mirava-o de longe, para não se dar conta, para não ter de o ouvir retorquir, encantava-me com aqueles traços fortes que queria fazer transparecer, que só lhe ocultavam o belo que era, e o quanto pura era a sua pele, e os lábios, aqueles lábios que todo esse tempo desejei atingir, só de os lembrar, o meu frágil corpo, tombava. E ainda o faz.

Na última noite de angústia eu disse-lhe:
-Tive medo dos teus lábios (…)
(E dissemos adeus, um ao outro, de maneiras diferentes, a melhor que cada um sabia.)
Queria tanto ver-te, ogre.

2 comentários:

Vinicius disse...

Lembrei-me de uma frase que diz "Sempre estamos a beira do pricipicio, querendo cair, e temendo pular." Gostei da tua história.

Abraço,

R.Vinicius

A certeza é menor que a possibilidade disse...

gosto da maneira como escreves...

=D